A ARTE E A CURA

        A arte, em suas diversas linguagens propicia o autoconhecimento, porque sendo amplificadora de conteúdos internos permite que a alma se expresse e revele a sua essência.

        Ela tem a propriedade de materializar, de mostrar aos olhos da mente consciente esses conteúdos internos simbólicos, podendo com isso libertar sentimentos, reduzir traumas, transmutar estados de paralisia criativa e promover a cura É pois um decodificador dos diálogos do consciente com o inconsciente do ser, que através da imagem criada, vê-se diante da circunstância de “traduzir o indizível em formas visíveis”, como disse Carl Gustav Jung, o criador da Psicologia Analítica. Para ele, analisar a simbologia contida em tais imagens poderia ser a chave da cura.

        Na visão junguiana, a vida tem como princípio o desenvolvimento, o crescimento, a realização do SI MESMO, a busca pela integração cósmica, o “religare”, e todo o ciclo vital é um processo contínuo de transformações guiadas pelo self, o arquétipo central e organizador de toda a psique.

        Ao se fazer arte, é possível experimentar caminhos novos, redescobrir antigos, gerando transformação nos vários aspectos da vida.

O trabalho artístico, como por exemplo, a arte visual, pintura ou o desenho mesmo quando feito só com rabiscos, manchas ou formas sem muito sentido, tem significado relevante, pois é a partir dessas criações plásticas e de seus aspectos transformadores que acontecem mudanças.

        Fazer emergir conteúdos do inconsciente por meio da arte é o ponto de partida da Arteterapia, método que busca dissolver traumas e conflitos a partir da leitura, feita pelo próprio paciente, da sua expressão artística. A arte então funciona como mediadora entre o homem e a natureza, atuando como elemento indispensável no processo de humanização dos seres no mundo, sendo assim um instrumento de sensibilização e de afirmação da auto-estima.

        Como o simbólico é muito trabalhado na arte, cabe ao arteterapeuta o papel de condutor-facilitador na análise da produção artística do paciente cujo trabalho deve unir a abordagem artística e psicológica.

        É um instrumento terapêutico, revelador, transformador e colaborador na construção da saúde psicoemocional, através do estímulo à criatividade

        Os símbolos retratam a psique em suas múltiplas facetas, ativando e realizando a comunicação entre o inconsciente e o consciente (ego), com isso eles colaboram para a compreensão e a resolução de conflitos afetivos favorecendo a estruturação e expansão da personalidade através dessas criações. Eles podem ser encontrados não só nestas criações artísticas como também nos sonhos e no próprio corpo (alterações no funcionamento do organismo) com as “doenças criativas”, indicando a necessidade de transformações dos padrões de funcionamento psíquico.

        A arte em suas diferentes linguagens (desenho, pintura, escultura, teatro, dança, música, etc.) seria, portanto um bom recurso, um instrumento lúdico e mágico para o conhecimento dos conteúdos simbólicos que surgem do mais profundo da alma humana, pois sentimentos, idéias, emoções, movidos pela energia psíquica, poderiam ser expressos através de linhas, de formas, de cores, de texturas, luz e intensidade cromáticas, contidas nas produções e expressões artísticas resultando em um processo terapêutico de desbloqueio da comunicação do inconsciente com o consciente, trazendo para a luz da razão imagens capazes de restaurar a saúde psíquica.

        A abordagem junguiana, ao mostrar a importância da criatividade (Jung tinha consciência da existência de um mecanismo criativo que contribuía para as mudanças na pessoa, ao qual chamou de Função Transcendente) tornou o tratamento psicoterapêutico agradável, prazeroso, integrador, o que permite muito mais facilmente a obtenção dos resultados transformadores ansiados e naturalmente a cura.

                                                                         Carmen Freaza