• 14 de janeiro de 2011
  • Geral

A criação estética, cuja unidade e harmonia das partes que a compõem possibilitam a sua apreciação pelo sensório, não necessariamente deve ser considerada como expressão de beleza, assim como nem tudo que é belo ou agradável é arte.

A própria história da arte mostra o quanto a arte pode não estar associada apenas ao conceito do belo. Esse conceito surgiu na Grécia antiga exaltando os valores humanos e os relacionando aos deuses. Esta arte, ao lado da religião, idealizava a natureza e colocava o homem como seu ponto culminante, o tipo perfeito, ideal, nobre, belo. Mais tarde Roma reviveu esse conceito na Renascença e até hoje influencia a cultura ocidental.

Já no início do século passado surge a arte contemporânea trazendo com ela uma proposta de crítica, de desconstrução de uma falsa realidade social, ressaltando a ambiguidade dos tempos atuais.

Apesar de tudo, os conceitos estéticos ainda se fazem presentes e de modo geral, a arte procura expressar os valores e os sentimentos profundos do ser humano, suas esperanças e sonhos, em determinado espaço e tempo da sua História ainda que na maioria das vezes, o artista produza a sua obra visando tão somente a arte em si mesma, apenas um fazer artístico com a finalidade estética. Essa procura pelo estético é somente o movimento inicial para a atividade artística, a qual procura se apossar do sentido das realidades experimentadas com paixão.

Ao pesquisar o tema do feminino, ao buscar captar a alma feminina para expressá-la através da pintura encontrei a natureza, os sentimentos, a sensualidade, o sutil e toda a densidade e delicadeza que esse tema traz em suas diversas manifestações. O contato com os elementos da natureza, as flores, o não pensar, o permitir espaço, a beleza das diferenças, a inclusão, a compaixão, tudo isso se apresenta de forma natural, podendo ser captado pela assim chamada alma estética e vivenciado além de tudo como valor ético.

O olhar do artista pela alma feminina às vezes o conduz a uma visão espiritualizada das coisas e leva-o a produzir obras cuja essência ultrapassa a imagem da mulher em si, tomando então formas diversas, inesperadas, simbólicas. Outras vezes o faz desenvolver um fazer com foco na expressão da beleza visível pura e simplesmente ou da que está além das aparências. Essa última tende a provocar em seu coração um estado de empatia com os seus pares, e com o novo que possa eventualmente cruzar seu caminho. Quando ele consegue ver as razões do outro, ele compreende a sua alma e se sente na obrigação e no direito de respeitá-lo, de incluí-lo, de amá-lo.
Desse modo é possível o reconhecimento pela vida, pelos sentimentos, pelo feminino que há em todos os seres, pelo desconhecido que traz ao consciente a noção real da magia, que acredita no poder do lúdico e do prazer de se saber vivo junto com as outras formas de vida, que acredita na síntese, e compreende também que, separar as partes é inevitavelmente perder o todo.